domingo, 16 de março de 2014

Castelo de Quimeras


De sobre os ponteiros de um relógio
Um castelo de palavras é erguido.
Suas estátuas de pedra e vento
Convidam o visitante atento
A saborear o cheiro do eterno.
Tudo é luz e sombra
Quando se transita
Por este espaço.
Tudo é tinta, grafite.
Deste labirinto tortuoso
Que me aprisiona e me liberta
Entre virgulas e pontos,
Tento em vão escapar.
Tenho a impressão,
Enquanto transito por aqui
De ter meu crânio esmagado
Entre as linhas tortas do papel.
Não há regras neste mundo,
Não há tempo ou espaço.
Tudo o que há é o livre devaneio.
O sonhador se faz sonho,
O poeta poesia,
E a poesia...
Estado de alma
Transcendental em si mesmo
Que busca o céu e o inferno
Inerente a todas as coisas.
Nesta aquarela instável
Que por hora transito
Vejo-me deslizar por janelas
Que não fazem entrar ou sair,
Mas apenas conduzem ao inusitado
Da estrada de tijolos desbotados
Que escala rumo ao sem fim.
Neste infinito espaço
Tudo é presente,
Pois que o tempo aqui
É mera ilusão.


AUTOR: Sávio Damato

sábado, 26 de outubro de 2013

O pássaro negro


Neste mundo onde as liberdades são utopias
Inventamos a liberdade e a prisão.
Possíveis apenas em parte, sabemos,
Não há prisão ou liberdade total.
Do total, da soma dos nós,
Não se tem notícia aqui do meio.


O pássaro negro observa do topo do prédio.
Ao fundo, o céu nublado,
Sempre recortado
Coberto por nuvens, ou em dia claro
Montanhas emolduram os céus
Prédios definem recortes, navalhas...


O pássaro observa
Eu observo o pássaro
Observo a escrita que observa
Observou?
Eis aqui nossa cegueira e nossa luz
Ponte dos séculos.


Sávio Damato.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Receita?


Para escrever poesia
Tome o papel e a pena,
Mergulhe fundo a caneta
No tinteiro do sentimento humano.

Toque com a ponta da pena,
Uma parte do papel
E deixe que a emoção crie forma.
Que o sentimento se cubra de palavras,
Que as palavras se ordenem na gramática
Tomando a casca que precisam.

Deixe a idéia criar vida
Imprimindo vida a folha sem cor.
Que a pena, tocada pelo elixir da vida
Sinta pulsar o coração.
E que a emoção transborde em cores
Tons de poesia.
Para se saber escrever poesia
É preciso saber sentir.

Assim nasce o poeta,
Do sentir a vida
E permitir à pena
O mergulhar em seus sentimentos
Para pintar o que vê.


Ser poeta é pintar
O explodir de almas
Dentro de um peito
Onde só deveria caber uma.

É sentir o sentimento do mundo
Emergir lá do fundo
Onde não mora ninguém.
Onde a filosofia ainda não
Conseguiu alcançar.

Poetizar é também amar
O feio que existe em cada coisa,
E dele saber tirar
O belo que ninguém vê.

Pode dizer maravilhas,
Pode chorar em meio à pena,
Ou simplesmente opinar
Sem com isso nada querer mudar.
Mas muda!

A pena do poeta
Lança grades, grilhões,
Liberta ou faz sofrer.

Se sou poeta,
Minhas mãos
Tem o poder da transformação.
Pois isso é poetizar.
Que ser misterioso é esse
Que vasculha o imo do ser
Sem ali haver recôndito perdido
Que não possa ser encontrado?

A quem pertence esta magia?
À pena, à poesia ou ao poeta?
De uma coisa eu sei:
A poesia é vida
E vive em tudo.
Esperando apenas a mão do poeta
Para lhe dar a forma eterna,
Imorredoura da escultura em versos.




De pena em punho



De pena em punho
Sente o poeta a majestade.
Ali, frente ao papel,
Corcel em que galopa,
Ele pode mudar o mundo.

Com simples rabiscos
Traços ordenados, grafismos
Torna-se o homem imortal.
A carne do poeta passa,
Perece como todo o resto
No domínio das formas.

Porem, o traço ordenado
Grafado pela pena,
Regido sem pena
Pelas mão do poeta
Faz historia,
E a reconstrói em cada dita.

Pode dizer maravilhar
Pode chorar em meio à pena,
Ou simplesmente opinar
Sem com isso nada querer mudar.
Mas muda!

Se sou poeta,
Minhas mãos
Tem o poder da transformação.
Pois isso é poetizar.

A pena do poeta
Lança grades, grilhões,
Liberta ou faz sofrer.

Que ser misterioso é esse
Que vasculha o imo do ser
Sem ali haver recôndito perdido
Que não possa ser encontrado?

A quem pertence esta magia,
à pena, à poesia ou ao poeta?
Uma coisa sei.
A poesia é vida
E vive em tudo.
Esperando apenas a mão do poeta
Para lhe dar a forma eterna,
Imorredoura da escultura em versos.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Tédio

27/07/09




Nada de novo no mundo
Nenhum som
Nenhuma bomba.
Tudo mudo, imundo
como sempre.

Nada de bom
Mais um pouco
de Nada em Tudo.
Tédio que sorri...

Mais um dia termina...
Silêncio
Cegueira
Outra vez...

Carros passam
Em deslizar ruidoso
Pessoas caminham
Marcando passos

O tempo passa...
Suave véu monótono.
É lento o entardecer
E com muitos mosquitos.

Não há pássaros
O relógio sem ponteiros Indica:
O tempo murchou!

Agora resta a cidade adormecida
A novela das oito
O apático Jornal Nacional
E o Boa-Noite final!

Um Verso Pelo Tédio De Domingo

 Diga um verso!
Que verso?
Um verso que verse
sem precisar rimar

Que venha e vá
como eco incerto
verso sem tradução
Sem emoção, talvez,
Mas que verse.


Um verso pelo verso
Verso pelo avesso
Um verso eu mereço.
Me atrevo!
Aterrada em palavras
E pensamentos...


Um verso que entrelace
Os sentimentos, os medos, as loucuras
As lacunas, os vazios invisíveis
Indizíveis da alma.


Então Diga.
Diga, vá!
Diga o que quero ouvir
O que não me atrevo a dizer


Não se cale
Em meias palavras
Não se apegue em detalhes


Fale-me de seus medos
Seus sonhos, seu sono
Dos pesadelos tambem.
E, claro, dos desejos.


Faça-me um apelo
Sussurre, grite!
Balbucie em meus ouvidos
Tudo o que não pode
Não deve ser ouvido
Mas deve ser dito
Por você e mais ninguém.



A noite é calma, calada
Morna e branda
 Entediada.
Será?


AUTORIA:  Sávio Damato

Pés inquietos


24/10/09



Meus pés estão inquietos
Descontentes!

Quarta-feira imensa!

O dia é todo meu
Mas o que faço com ele?

Leio, troco de livros
A todo instante.
Nesse mozaico de vidas
Espalhadas no papel
Tento escapar da lineariedade
Dos dias, das horas, das noites sem fim...

...
Vi a vida passando...
Cantando sua melodia atrófica
Muda, surda, absurda!
Vida morna

Remédios já não fazem dormir
Estou preso à vida
Aos dias, às noites!

O que faz em mim
O eco das semanas passadas?
O que faço aqui?

Perco-me,
entrego-me.
Sinto...

Sinto falta do abraço amigo
Do beijo da amante
Do som que embriaga
Que faz esquecer a dor do existir.
Meus amores diáfanos
Perderam-se na neblina.

Sinto-me cheio, repleto
Do vazio que preenche todas as coisas.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Juiz de Fora



Talvez sejam teus dias frios
O inverno que não tem hora de vir ou voltar
Talvez seja tua vocação cosmopolita
Ou as muitas estudantes, de todas as partes, que aqui abriga.
Talvez sejam as noites brancas...
Talvez seja o talvez de cada letra de teus muitos nomes



Tuas ruas, seus poetas, teus fidalgos
Teus olhos furtivos, furtacor
Tuas putas universitárias
Teu jeito falso de classe média



És culta e bela
Princesinha traída
Currada
Bela como as mulheres que dão curvas às tuas ruas.



Estrangeira...
Fria como a alma dos que não têm pátria.
Teus filhos não lhe pertencem
Adotas os peregrinos sem rumo.



Uma cidade boa para envelhecer,
Disse-me ontem uma amiga.
Sou jovem demais para envelhecer,
pensei



Confesso: Não resisto
Ao doce fascínio do vício
De tuas frias madrugadas

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Castelo de Quimeras

De sobre os ponteiros de um relógio
Um castelo de palavras é erguido.
Suas estátuas de pedra e vento
Convidam o visitante atento
A saborear o cheiro do eterno.

Tudo é luz e sombra
Quando se transita
Por este espaço.
Tudo é tinta, grafite.

Desse labirinto tortuoso
Que me aprisiona e me liberta
Entre virgulas e pontos,
Tento em vão escapar.

Tenho a impressão,
Enquanto transito por aqui
De ter meu crânio esmagado
Entre as linhas tortas do papel.

Não há regras neste mundo,
Não há tempo ou espaço.
Tudo o que há é o livre devaneio.
O sonhador se faz sonho,
O poeta poesia,
E a poesia...
Estado de alma
Transcendente em si mesmo
Que busca o céu e o inferno
Inerente a todas as coisas.

Nesta aquarela instável
Que por hora transito
Vejo-me deslizar por janelas
Que não fazem entrar ou sair,
Mas apenas conduzem ao inusitado
Da estrada de tijolos desbotados
Que escala rumo ao sem fim.

Neste infinito espaço
Tudo é presente,
Pois que o tempo aqui
É mera ilusão.


AUTOR: Sávio Damato

Idiossincrasias

Faço um desavesso às avessas
Tampo com as mãos os olhos, os ouvidos,
Tento estancar a respiração e oprimir o coração
Na expectativa de também não sentir o que dele sai.


O que busco?
Busco isolar-me de mim
Na busca de ver mais além.


Quero que o ponto seja mancha,
Sejam várias as manchas.
E que elas se multipliquem.


Quero que a visão limitada ao ponto
Se dilua e faça parte de tudo.
Quero ver o mundo com os olhos de todos.


Quero me transportar para dentro
De cada criança, velho ou adulto.
Para dentro de cada cego, surdo e mudo.
Não quero ver apenas com olhos perfeitos,
Quero o defeito, o feio, o bruto.


Para ser completo
É preciso se partir em pedaços.
Dez mil são poucos.


Quero ver com os pés e as mãos,
Que cada poro seja visão
Para o mundo me engolir.
E assim eu seja mundo.
Os muitos mundos de cada um.



AUTOR: Sávio Damato

Somos assim


Somos todos iguais, você e eu.
Estamos juntos enquanto não
Encontramos alguém melhor.
E você também é assim.
Amo e você me ama,
Pois eu me vejo em você
E você ainda se vê em mim.


Um dia, quando nos separarmos,
Não quero que seja infeliz
Apenas espero que sua felicidade
Não seja maior que a minha.


Que não te veja com alguém,
Melhor ou pior do que eu
Antes que você me veja
Com outra, se não melhor,
Ao menos mais bonita.


Somos assim,
Você e eu, todos iguais.
Querendo o que há de melhor
Doando o menos possível de si.
Somos assim. Todos!


Para que mentir se ao fim
Quem mais amou vai chorar
Se arrepender de amar, ilusão.
Amanhã outro é que vai amar
E da desilusão vai lhe abandonar
Por que nunca o amou, confissão.
Um outro é que agora vai chorar.


Eis a nossa prole: desilusão,
Passando de mão em mão
De bar em bar, nunca pára.


Que no fim não terminemos abraçados
Chorando, beijando, lamentando, enfim...
Pois assim, dos lábios mornos,
Do beijo de Judas,
É que escorre o veneno mais cruel.

AUTOR: Sávio Damato